sexta-feira, 18 de junho de 2010

RIGOROSAS PALAVRAS POR DIZER....



Quando nas madrugadas falo, adormeço aparentemente no sereno das palavras que à lua dito em segredo! Absurdas sem sentido! Mas ainda assim projectando-me em espelho embaciado.

Vi a lua!
Vi-a empalidecer perdendo-se na luz....Errei ao pensar que viria finalmente a meu encontro. Engano meu (Mais uma vez!)

Reflicto a minha imagem no espelho! Envelheço de imediato nas lembranças que me retiram friamente a juventude,
E a tez de meu rosto, em segundos, perde o tom rosado ao recordar cada imagem...
Empurram-me para um canto , perpétuamente secreto!

Guardo tudo em gavetas entreabertas.
Revejo e arrasto passos onde lentamente crescem raízes tão profundas que não se arrancam.
Coloco-me de lado e arrumo algumas das sílabas e algumas das sombras de rigorosas palavras que nunca disse.

- Corpo enfermo de asa partida pousada na calcinada ainda húmida, sopra em cima das dolorosas escondidas debaixo de tinta... Escuta apenas o som do teu isqueiro e o pousar da tua chávena!

Repousa...Um repouso modesto encolhido no medo sem culpa! E um obediente sofrimento de olhos que de qualquer alegria duvidam naquele silêncio que conheço ou naquele dizer trémulo das palavras indefesas.

Impacientam-me as migalhas! Impacientam-me as vozes que vêem apenas de visita despropositadas!

- Acordei do sonho por breves momentos! (Gritei!) Desejei beber o mar apenas num verso...

Sinto-me suja como um objecto derrubado, despegado e desarrumado pelas ondas fora do lugar onde pertenciam,
Com o peso do meu corpo deslocado apenas para um dos lados. O sangue sobre a metade mais gasta, esmagando arrebatadoramente o sentido da invenção daquela alma!

(-Não digas nada a ninguém, o tempo agora é de poucas conversas e de ainda menos sentido... Pensa apenas que sou menina mulher que não possui sentimentos por definição! Que sou lebre esfomeada pela galopante viagem de pulsares efémeros de paixões adolescentes negando-lhe o lugar no firmamento, mas mesmo assim desejado!)

O sino, entre as quatro paredes tocou.

- Acorda, são horas de te levantares menina!

DIANA VELOSO

quinta-feira, 10 de junho de 2010

ACORDAR INVOLUNTARIAMENTE PERTO...



Depois de tantas vontades e quereres inexplicáveis, ouvir a voz dele sussurrando ao meu ouvido foi uma bênção. Na verdade, era o que eu realmente esperava… Alguém com quem partilhar a dificuldade indefinida da situação!

Dispus-me da oportunidade de desfrutar o sonho, de ficar sentada ao seu lado observando apenas o carácter mais complexo daquela presa que naufragava na profundeza do meu mar. Impressionava-me! Delirava com a capacidade de mudança! Não uma mudança subtil de adaptação que estou habituada… Mas um mudar por completo! Era como pudesse comparar aqueles momentos a um espelho gigante reflectindo imagens diversas sem parar. Parecia impossível, as múltiplas e complexas personalidades que eram reflectidas sem muito esforço em cada imagem espelhada…

Por instantes pareceu-me um sonho diferente de todos os outros. Um sonho realizável, tangível! Limitei-me a sorrir para não mostrar o receio que se escondia através dos lábios ritmados pelo nervosismo de me prender. (Afinal de contas eu neste sonho sou a felina mais temida!) Era mais tangível do que eu alguma vez poderia imaginar que o fosse, tinha estrutura suficiente para em poucos dias tornar-se no meu principal confidente… Éramos complementares aos métodos! Éramos capazes de integrámos as divergências num todo, que elas não causavam problemas…

Podia pensar eternamente no sonho que tive com aquela presa, Podia pensar eternamente na amplitude e na profundeza da nossa capacidade de convivência. No entanto, haverá sempre mais alguma coisa para aprender! Em cada sonho, apesar de saber que o acordar poderá estar involuntariamente perto, há sempre qualquer coisa para aprender, mais um pormenor para descobrir, mais questões para se reflectir.
Julgava perceber o que se passava! No fundo do meu subconsciente reconhecia tudo o que ele estava a fazer, era compreensível. Apercebi-me que o tinha de fazer! Porém, à superfície das águas daquele mar já compartilhado por ambos, não deixava admitir que doía e passei a apreciar jogos que se instalavam como barreiras para a dor não se alojar mais uma vez em território felino.

Depois do sonho, sentada na última da trigésima quinta escada, de olhos vermelhos, face afogueada e a cabeça apertada entre as minhas próprias mãos… Senti vontade de abraçar(-te!) a invulgaridade novamente. Não o pude fazer porque simplesmente essa já se tinha fundido nas nuvens da madrugada, já não estava lá o sorriso de lado e os cabelos domados pelo vento. Limitei-me a tocar a face através da lembrança! Levantei-me do chão molhado pela chuva, retirei o olhar fixo das estrelas e galopei até a uma fonte de salvação. Lavei o rosto incansavelmente (mesmo sem querer!).
Não queria acordar do sonho compartilhado! Nunca foi vontade minha sentir a presa fugir entre mãos e ouvi-la novamente de longe!

Decidi recostar-me na cadeira velha de madeira gasta pelo tempo, vendo a cinza já gasta do cigarro escorregar sobre os contornos que me desenhavam naquele momento. Olhei por entre as grades da varanda, analisei-me a mim própria: ‘’Que estou a fazer?’’ / ‘’Que estou a sentir?’’ / ‘’No que me estou a tornar?’’… Não encontrei qualquer respostas para as dúvidas que me prosseguiam agora a toda a hora… Eram sentimentos que se instalavam que nunca sentira antes, eram quereres que não tinham definição.

Ainda agora, enquanto tento vomitar esta quantidade de frases que transbordam em minha alma, continuo a trabalhar arduamente naquele domínio ainda indefinido pela maré do meu próprio mar. (Que necessidade tenho de satisfazer as perguntas incasáveis que entram como flecha em meu corpo!)

Sei que não posso pedir explicações a quem pertenceu ao meu sonho!

Apenas olho para o mato bravo regado de verdes molhados e silêncios desertos no vazio da aldeia e apenas me pergunto: ‘’ E se o amanhã não vier? Continuarei eu com o mesmo sonho em mente? Continuaremos a compartilhar as madrugadas solitárias?’’

DIANA VELOSO